

Provavelmente alguns músicos já se perguntaram “é realmente preciso ser graduado para ser músico?”. A resposta é bastante simples: NÃO.
Existem diversos casos de músicos excelentes que nunca pisaram em uma faculdade. Eles têm a habilidade prática. O que a academia (faculdade/universidade) oferece é, sobre tudo, conhecimentos teóricos. Esses conhecimentos são importantes para, por exemplo, quem quer se tornar um professor de música em uma escola formal. Contudo, é importante salientar que apenas os conhecimentos teóricos não fazem do recém formado um excelente músico. Antes de tudo, vamos verificar alguns percursos possíveis do músico na carreira acadêmica.
O caminho do músico na academia
No Brasil existem três tipos de graduação, são elas: Tecnológica, Licenciatura e Bacharelado.
A Graduação Tecnológica (que não é o ensino técnico!) é focada na prática. O curso geralmente é mais curto, com duração de 2 ou 3 anos, e existem poucas disciplinas teóricas. Todo o conteúdo é voltado para a formação do profissional. Em todas as áreas em que existem graduação tecnológica, há sempre um evolvimento com recursos tecnológicos da área. Atualmente existem poucas graduações tecnológicas em música. As que encontramos estão relacionadas, principalmente, com a produção musical. Nela, os alunos vão passar por disciplinas de gravação, marketing, sonorização, acústica, entre outras.
A Licenciatura é voltada para a formação do professor. Nela o aluno vai passar por uma série de disciplinas pedagógicas, além de algumas teóricas e práticas. Vai ainda passar pelo estágio, que será ministrado em uma escola convencional. Todas essas matérias têm o objetivo de preparar o graduando para a árdua (porém nobre) tarefa de ensinar ao outros. Existem diversos cursos espalhados pelo país. Em todos os estados da federação têm faculdades federais e/ou estaduais, além das privadas, ofertando cursos de licenciatura em música. Toda essa rede de cursos visa formar profissionais para atuarem junto ao ensino básico (público e privado). Contudo, ainda existe uma enorme carência músicos licenciados1, principalmente depois da Lei Nº 11.769, de 18 de agosto de 20082, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica.
O Bacharelado é voltado, geralmente, para a formação do pesquisador. Em música, principalmente para a formação do chamado performer, que é o instrumentista. Também, na formação do compositor e do regente. Existem diversas escolas ligadas a universidades por todo o país que ofertam bacharelados em diversos instrumentos. O curso de bacharelado tem diversas disciplinas teóricas e práticas que visam aprimorar a habilidade no instrumento, ou na escrita, ou ainda na regência. A saída profissional para essa modalidade, além de orquestras e conservatórios, é a própria academia.
Após a graduação, caso o recém formado queira progredir na carreira acadêmica, é necessário fazer cursos de pós-graduação. No Brasil existem 2 caminhos: Latu senso, que são as especializações, e o Stricto sensu, que são o Mestrado e o Doutorado.
Existem uma grande gama de especializações no Brasil. Todas elas visam complementar a formação do graduado. Por exemplo, é bastante comum a Especialização em Ensino da Música (ou Educação Musical, existem alguns termos equivalentes). Também existe a Especialização em Composição, ou Regência, ou ainda em instrumentos. Nela o aluno vai mergulhar um pouco mais naquele campo de conhecimento.
Um passo mais arriscado, certamente, é a pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado). Mais arriscado porque todos os Programas de Pós-Graduação em Música (PPGMUS) existentes no Brasil têm uma série de exigências, antes e durante o curso. Antes, há uma prova de seleção, que consiste, geralmente, de uma provas teóricas, práticas e, por fim, uma entrevista. Além disso, existem exames durante o curso. E praticamente todos os PPGMUS exigem que o aluno além de tocar/compor/reger, pesquisar, escrever uma dissertação/tese, publique artigos em revistas científicas ou em congressos. Ou seja, além de estudar, o pós-graduando tem a grande responsabilidade de produzir conhecimento original.
As áreas de concentração mais comuns dos mestrados e doutorados em música são:
- Composição (por vezes também chamada de Criação Musical);
- Práticas interpretativas (em Instrumentos e Regência);
- Musicologia/Etnomusicologia;
- Educação Musical.
Os PPGMUS ramificam ainda mais essas áreas. Isso se dá para atender as pesquisas dos professores associados aos programas.
E depois?
Após concluir mestrado e doutorado, o caminho mais comum é se tornar um professor no ensino superior, atuando em faculdades, universidades, institutos federais, ou ainda como pesquisador (o que é mais raro no Brasil, se não for ligado a uma universidade). Também é possível atuar na educação básica. Muitos estados e municípios têm planos de cargos e carreiras que remuneram o professor conforme sua graduação.
Obviamente, como em qualquer profissão, ter um diploma ajuda (e muito) a conseguir trabalhos melhores, mais especializados, que requerem menos esforço físico (mas certamente mais esforço mental) e que têm uma melhor remuneração.
Como exposto no inicio desta postagem, os títulos não colocam automaticamente o músico acadêmico no mesmo patamar de Mozart, Beethoven, Wagner, entre outros grandes da música. O títulos “apenas” atestam que o profissional obteve conhecimentos teóricos que o permitam obter um título, passando por avaliações nas disciplinas, ao longo do curso, e por uma banca (duas vezes, no caso de mestrado e doutorado) onde ele foi arguido sobre um trabalho de conclusão de curso original.
Afinal, títulos são essenciais para formação do músico? Tendo a responder que sim. É fundamental a busca por novos conhecimentos em qualquer área. Contudo, apenas títulos em molduras empoeiradas pendurados em paredes velhas não garantem a excelência do músico. A busca pelo conhecimento deve ser uma constante na vida do músico.
Notas
- FAJARDO, Vanessa. Lei que torna o ensino de música obrigatório na rede pública completa dez anos, mas não é implementada. G1 – O portal de notícias da Globo, São Paulo, 13 out. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/guia-de-carreiras/noticia/2018/10/13/lei-que-torna-o-ensino-de-musica-obrigatorio-na-rede-publica-completa-dez-anos-mas-nao-e-implementada.ghtml. Acesso em: 5 fev. 2020.
- BRASIL. Lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. Presidência da República: Casa Civil, Brasília: Subchefia para Assuntos Jurídicos, 18 ago. 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11769.htm. Acesso em: 5 fev. 2020.